Hoje em dia qualquer pessoa que aconselha e orienta outras parece logo se intitular como coach, embora o que e como faça tal atividade possa variar consideravelmente. Com base na proliferação de coaches por aí, achei importante reforçar alguns conceitos e ideias básicas sobre o tema. Desta forma, espero apoiar um pouco mais as explicações que já temos e que estão sendo cada vez mais reforçadas sobre o que é coaching e para o quê ele serve. Sim, porque apesar do crescimento do uso do termo, compreendo que está aumentando igualmente o seu esclarecimento. E entendo também que é sempre válido ajudar a clarificar ainda mais as confusões e mal interpretações que o mercado faz desta metodologia.
Por vir da psicologia, enquanto profissional, sinto primordialmente a necessidade de fazer algumas diferenciações quanto à prática de coaching e a minha base de formação. Acredito que, assim, contribuo para explicar suas distinções e deixar mais um reforço sobre o que é um e outro, isto é, coaching e psicologia. Poderão se beneficiar deste conteúdo quem está procurando um ou outro serviço. Ou até mesmo quem estiver procurando entender um pouco de ambos.
O que é coaching
Coaching é uma metodologia que provoca mudança, que ajuda pessoas a aprender, se desenvolver e a ser o melhor que se pode ser. Ao ajudar as pessoas, o coaching ajuda também os negócios.
O coaching proporciona desenvolvimento pessoal e profissional a partir da definição de objetivos, metas e prazos. Sua função é melhorar a satisfação do indivíduo em todas as áreas da vida como carreira & trabalho, vida pessoal & familiar, afetiva & emocional, espiritual, financeira, saúde, de lazer, etc.
Podemos dizer que coaching é quando duas pessoas estão engajadas em aumentar o conhecimento e a consciência de uma delas e consequentemente sua habilidade para agir dentro de um contexto específico.
Para que serve o coaching?
O coaching serve para uma série de finalidades voltadas tanto para a vida pessoal quanto para a profissional, alguns exemplos de utilidade desta metodologia, em ambos os contextos, são:
- Fazer escolhas
- Tomar decisões
- Potencializar resultados
- Atingir maior satisfação com a vida
- Ter objetivos mais claros
- Ter um plano bem desenhado para atingir metas específicas
Embora o coaching possa atender a objetivos em todas as áreas da vida, eu atuo exclusivamente com o coaching voltado para objetivos relacionados à vida corporativa e empresarial ou coaching de carreira, atendendo tanto pessoas físicas quanto jurídicas e trabalhando individualmente ou em grupo.
Coaching de Carreira e Coaching Empresarial
Eu atuo com a metodologia de coaching aplicada em dois contextos diferentes. O primeiro chamo de Coaching de Carreira – contratado diretamente por qualquer pessoa que busca melhorar o desempenho no trabalho, tomar decisões e realizar objetivos profissionais.
Por outro lado, chamo de Coaching Empresarial aquele que a empresa me contrata. É orientado para uma pessoa, ou grupo de pessoas, que estão dentro de um contexto organizacional específico. Este trabalho, para funcionar, é preciso que os objetivos de desenvolvimento sejam comuns tanto para a(s) pessoa(s) envolvida(s) quanto para a empresa.
Coaching é confiável? A polêmica do Coaching explicada
Como psicóloga, entendo que o trabalho de coaching pode ser um tanto quanto controverso porque existem tanto opiniões a favor quanto contra. Aquelas a favor geralmente vêm de quem conhece e se aprofundou (relativamente bastante) no tema. Entendo que as críticas ao coaching podem vir de quem não compreende muito bem ou em função de problemas de credibilidade da atividade.
O fato do coaching não ser reconhecido como profissão, ser carente de estudos científicos e de uma regulamentação mais formal, contribui para práticas que o descredibilizam. Afinal, qualquer profissional com formação superior pode ser um coach certificado e habilitado para o uso de um conjunto de ferramentas. No entanto, o trabalho, quando bem aplicado por quem tem de fato preparo, é muito benéfico para os fins aos quais ele se destina.
Qual é a diferença entre Coach e Psicólogo?
Psicologia é uma profissão regulamentada, com formação superior e científica específicas. Os psicólogos estudam e trabalham com o comportamento humano, bem como com os processos mentais e emocionais dos indivíduos. Estes profissionais, portanto, estão aptos a analisar e a lidar com a conduta, com as emoções e com os processos cognitivos das pessoas (atenção, memória, percepção, linguagem, etc). Por analisarem, compreenderem e lidarem com tudo isso, são profissionais capazes de apoiar na resolução de problemas tanto pessoais quanto profissionais que a sociedade e seus indivíduos apresentam. Lembrando que estes problemas podem ser de ordem comportamental, emocional e cognitiva, portanto, é uma gama bem ampla de problemas que o psicólogo ajuda a resolver.
Coaching não é considerado como uma profissão específica. Não existe uma formação superior que a regulamente. O que existe é uma metodologia de trabalho na qual pessoas interessadas podem ser certificadas para atuar com ela. Como metodologia, ela usa técnicas e ferramentas que ajudam e estimulam o desenvolvimento pessoal e profissional. Com elas, o coach (a pessoa que usa a metodologia do coaching) pode estimular e desafiar hábitos e comportamentos de seus clientes, os coachees (os clientes do coaching). No entanto, o coach não entra em questões muito emocionais e afetivas. Quem possui esta prerrogativa é o psicólogo.
Contudo, tanto o psicólogo quanto o coach influenciam o comportamento das pessoas e as levam para a ação porque possuem habilidades, técnicas e ferramentas específicas para tal. O que é importante salientar é que eles não devem ser confundidos porque são produto de formações diferentes. Na verdade, quem vem mesmo de uma formação é o psicólogo, o coach é produto do estudo de uma metodologia de trabalho. Leia a Nota emitida pelo Conselho Federal de Psicologia que orienta os psicólogos quanto ao exercício do coaching.
O que é importante salientar é que o coaching se destina a indivíduos sem problemas de saúde emocional. Ao meu ver o perigo da prática reside justamente neste ponto. Como nem todos os coaches possuem uma formação que os treine a enxergar o conflito mental e emocional, nem sempre este aspecto é levado em consideração no momento de decidir pela continuidade ou não do trabalho.
Quando o Coach é Psicólogo – como funciona?
O coach-psicólogo aplica a mesma metodologia que um coach aplica, entretanto, a formação e experiência nos aspectos mais profundos da mente se destaca em situações em que entraves emocionais do coachee podem impedi-lo de alcançar seus objetivos. Nesses casos, o coach-psicólogo orientará o coachee para o melhor caminho a seguir.
Lembro-me do início dos meus atendimentos em coaching e o quanto estava empolgada em praticar o que havia aprendido em minha formação. Comecei a atender uma pessoa que trouxe como demanda o desejo de desenvolver algumas habilidades comportamentais.
Entendi logo nas primeiras sessões que, no entanto, ela ainda de fato não tinha um foco muito nítido. Emocionalmente havia ali uma profusão de sentimentos e certa confusão do que de fato ela desejava. O que, pela sua história relatada, era muito compreensível. Passei esta minha percepção a ela e combinamos de nos encontrarmos mais algumas vezes, antes de decidirmos que rumo tomar. A esta altura já havíamos falado que talvez um processo terapêutico seria o mais adequado. Ao final de alguns encontros ficou mais transparente e claro para a cliente que esta saída seria melhor.
O atendimento em coaching que desejava muito fazer (com início, meio e fim), neste caso, não foi possível acontecer. Entretanto, o sentimento que tive de que de fato a apoiei no processo de decisão de buscar algo mais benéfico para a sua necessidade foi muito mais gratificante. Além disso, essa cliente pôde ainda entender melhor o trabalho de coaching e para quais fins ele serve, ou seja, foi um processo educacional também.
Nem todos os coaches são treinados para poder enxergar aspectos emocionais e mentais de seus clientes. Muitos vêm com outros backgrounds profissionais e educacionais, diferentes da psicologia. A consciência de gaps como este é aspecto fundamental para o exercício da boa prática.
Apesar de em alguns países, como Portugal, a profissão coaching ser reivindicada pelo conselho de psicologia como uma atividade exclusiva de psicólogos, na minha opinião, nem todo coach precisa ser psicólogo, mas o coach que não é psicólogo precisa saber reconhecer até onde vai o propósito do trabalho. E principalmente em que condições o cliente precisa estar para se beneficiar dele.
Todo profissional que deseja trabalhar com metodologia de coaching deve avaliar qual é o potencial emocional de seu cliente para a realização do atendimento. Especializar-se na identificação de fatores emocionais e mentais é algo que deveria estar na agenda de todos os coaches. Não significa aprender a tratar estes fatores, mas de identificá-los para poder dar o encaminhamento adequado à demanda do cliente. E assim garantir que seu trabalho promova mais a saúde do cliente do que prejuízos profundos e intensos.
Como contratar o Coaching:
Quem procura o coaching também possui responsabilidades. A recomendação é que o cliente sempre se informe sobre como funciona o trabalho e sobre o profissional que oferece o serviço. Uma boa conversa preliminar entre ambos – transparente, ética e objetiva – sempre ajuda. Aqui ficam algumas dicas de como contratar o coaching:
- Informe-se sobre o que é coaching.
- Procure um profissional certificado com o qual se identifique.
- Agende uma conversa com o possível coach, tire suas dúvidas e esclareça o seu objetivo e expectativas com o processo.
De onde saíram essas ideias / referências
- https://www.crprs.org.br/conteudo/publicacoes/cartilha_cpot.pdf
- ABOUJAOUDE, Elias. Life-coaching is unregulated and growing rapidly: should it be reined in?. Psyche.co. 2020. Disponível em: https://psyche.co/ideas/life-coaching-is-unregulated-and-growing-rapidly-should-it-be-reined-in. Acesso em: 20 de novembro de 2020.
- O`CONNOR, J. & LAGES, A. How Coaching Works. A&C Black Business and Information Development. 2007
- Porque a Psicologia deve se apropriar do Coaching!