análise-transacional-desenvolvimento-comunicacao

Análise Transacional no desenvolvimento pessoal e profissional

A Análise Transacional (AT) é um dos vários olhares que a psicologia apresenta para compreendermos melhor as pessoas, seus pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos. São muitas as teorias, modelos psicológicos, métodos e técnicas que podem apoiar o(a) psicólogo(a) a promover o desenvolvimento das pessoas que, ao conhecer algumas destas teorias, acaba por se identificar mais com uma ou outra, definindo a base na qual fundamentará o seu trabalho.  

Dentre as teorias que conheci, uma com a qual me identifiquei bastante foi a Análise Transacional. Com ela procuro desenvolver meu trabalho nos atendimentos em Coaching de Carreira ou Coaching Empresarial, no Programa de Mentores e nos projetos de Treinamento e Desenvolvimento. Por isso, convido você a conhecer um pouco mais sobre ela.

Por estarmos o tempo todo interagindo uns com os outros e, por vezes, dependermos dos outros para crescer e nos desenvolvermos, a forma com a qual nos conectamos com outras pessoas é fundamental. Mesmo quando estamos em ambientes informais, saber interagir é importante para nos conectarmos melhor com as pessoas. Fazer esta conexão nem sempre é fácil, porém certamente é recompensador quando passamos a compreender melhor tanto o outro quanto nós mesmos. Desta forma atingimos mais facilmente o nosso potencial. Esse é o contexto em que nasce a Análise Transacional.

O que é Análise Transacional

A Análise Transacional surgiu com Eric Berne, um psiquiatra canadense, entre as décadas de 50 e 60. É um modelo psicológico que procura explicar os comportamentos, pensamentos e sentimentos por meio das interações humanas. O termo transacional vem da menor unidade existente entre as relações que estabelecemos com outras pessoas, a qual Berne chama de transação. Toda a transação possui um estímulo e, portanto, uma resposta a este estímulo. As diferentes formas de estímulo-resposta constituem as transações e caracterizam a forma como interagimos. Basicamente a AT estuda como as pessoas se relacionam e tem a ver com a troca de estímulos entre as relações humanas.

análise transacional: Diagrama da transação entre EU e o OUTRO, onde de um lado tem um estímulo e de outro tem uma resposta -
Foto: Maria Varnieri.

Inicialmente este método surgiu no campo da psicoterapia, no entanto, hoje em dia é uma teoria utilizada no meio organizacional, educacional, de aconselhamento, entre outros. É uma teoria que contribui não apenas para os psicólogos, mas também para gestores, líderes, educadores, empresários e outros profissionais interessados em compreender o comportamento humano.

No Brasil existe a União Nacional dos Analistas Transacionais (UNAT), responsável por promover o desenvolvimento da AT através de cursos de formação, apoio e parcerias com outras entidades que ajudam a divulgar este método de análise psicológica do desenvolvimento humano. Assim como existe também uma rede profissional de desenvolvimento da AT na comunidade internacional, a International Transactional Analysis Association (ITAA). 

O Objetivo da Análise Transacional

A partir do conhecimento sobre como se dá a interação que estabelecemos com os outros, a Análise Transacional permite uma melhor compreensão sobre nós mesmos e, quanto mais autoconhecimento nós temos, mais habilidades interpessoais possuímos. Além do conhecimento de si, a AT gera também maior conhecimento sobre o outro e sobre como nos relacionamos. Com ela aprendemos a mapear personalidades

Uma vez que se tem maior compreensão de si e do outro é possível atingir o máximo do nosso potencial, gerando e ampliando o nosso bem-estar. Com o entendimento sobre os comportamentos, pensamentos e emoções das pessoas envolvidas nas transações, a mudança de atitude torna-se possível. Desta forma a AT auxilia e provoca mudanças, sempre com o intuito de auxiliar no crescimento das pessoas. 

Este modelo psicológico acredita que todos temos o potencial para sermos felizes e para mantermos relações saudáveis e de qualidade, desde que a gente explore a forma como nos comunicamos já que estas interações são formas de comunicação. As interações são formadas por comunicações verbais, corporais e faciais, além das palavras não-ditas.

Instrumentos e Conceitos Centrais da Análise Transacional

Para uma melhor compreensão desta teoria, destaco aqui alguns conceitos centrais que servem como instrumentos de trabalho para a AT. Não tenho a pretensão de trazer todos os conceitos do modelo e sim sinalizar alguns mais relevantes. Além destes, existem outros conceitos que ajudam o analista transacional a realizar seu trabalho com pessoas e grupos. 

Estados do Ego

É a forma como a Análise Transacional compreende a personalidade, isto é, são sistemas coerentes de pensamentos e sentimentos manifestados por comportamentos correspondentes. Estes estados são compostos por 3 elementos: Pai, Adulto e Criança. Ao ter consciência destes estados é possível distinguirmos as várias fontes de pensamentos, sentimentos, sensações e formas de comportamento.

Estado de Ego Pai:

O conteúdo aqui é derivado das figuras parentais, pessoas responsáveis pela nossa criação e formação na primeira infância. É o que aprendemos enquanto crianças a partir da interação com estas figuras e podemos dizer que servem como influências externas. Neste estado sentimos, agimos, falamos e reagimos como um dos nossos cuidadores fazia conosco quando éramos pequenos. Digamos que é “o que fomos ensinados a”. 

Estado de Ego Adulto:

O conteúdo é estabelecido a partir da nossa análise do meio e do contexto em que estamos. É uma análise mais objetiva/racional, quando calculamos possibilidades e probabilidades com base em nossas experiências passadas. É a nossa capacidade de pensar e de determinar as nossas ações. Este estado é capaz de manter sob controle os outros dois, pai e criança. É quando estamos pensando e ponderando com base em dados da realidade e de nossas experiências anteriores.

Estado de Ego Criança:

O conteúdo que carregamos aqui tem a ver com os nossos sentimentos, pensamentos e emoções de quando éramos crianças. É o nosso lado mais sentimental, intuitivo, criativo e livre. 

Todos temos os três estados em constante relação. Podemos manter um ou outro mais em evidência e, digamos, em maior “uso”. Durante uma interação com outra pessoa podemos lançar mão mais de um ou outro. Sendo que nenhum é totalmente positivo ou negativo, vai depender do que a interação exige ou do que o contexto pede. A Análise Transacional, nos mostra a forma como agimos quando estamos em um ou outro estado e suas consequências. Uma vez sabendo disso, podemos escolher um caminho mais adequado à situação em que estamos para, assim, nos tornarmos mais assertivos dentro daquela interação. A consciência sobre em que estado estamos e se ele é ou não o mais adequado permite resultados mais positivos em nossos relacionamentos interpessoais.

Transações

É a menor unidade de medida na relação entre as pessoas. Ao compreender estas transações, ganhamos mais controle de como agimos com os outros e de como os outros agem em relação a nós. A análise delas é a chave para resolvermos conflitos.

Transações ótimas, geram interações positivas, por outro lado, transações negativas geram discórdia e conflitos. Quando duas pessoas se relacionam, existem seis estados de ego interagindo. Eu, com os meus três estados (pai, adulto e criança) e o outro com os seus três estados também (pai, adulto e criança).

As transações acontecem entre estes seis estados. O meu estado de ego pai se manifesta e aciona o estado de ego criança do outro. Este é apenas um exemplo porque são várias as combinações destas transações que podem ocorrer e as classificamos como complementares, cruzadas, ulteriores, angulares e as duplex, mas não falarei de cada uma delas aqui. O que é preciso entender é que a Análise Transacional se baseia na análise de cada uma destas possíveis transações, compreendendo o comportamento por elas gerado e criando assim possibilidades de mudança.

No exemplo abaixo, quando eu me comunico utilizando o estado de ego pai, o faço provavelmente manifestando linguagem corporal ou expressões irritadas e impacientes e verbalizando palavras de julgamento e críticas que denotam autoridade e comando. Esta minha forma de comunicar, pode acionar no outro qualquer um dos estados, mas provavelmente será o estado de ego criança que se manifestará também de forma física e verbal com respostas que demonstram raiva, tristeza, desespero, provocações como “olhos revirados”, birra, etc

análise transacional: diagrama de transação entre os três tipos de ego (pai, adulto e criança) do EU e do OUTRO.
Foto: Maria Varnieri.

Estruturação do Tempo

É basicamente a forma como nós seres humanos usamos para passar ou preencher o tempo. Geralmente agimos para preencher necessidades como as de estímulo ou sensação. Precisamos de estímulos que nos façam sentir e que despertem alguma espécie de emoção. Outra necessidade é a de reconhecimento, quando buscamos algum estímulo que só pode vir do outro. A terceira necessidade é a de estrutura. Precisamos de certa rotina, organização, ordem. Por isso nos organizamos em sociedade, como acontece em empresas, associações, entidades e por aí vai. Como forma de estruturarmos o nosso tempo, existem os rituais, as atividades de passatempo, os jogos psicológicos e o próprio ato de trabalhar, de se ocupar. 

Posições Existenciais

Para a Análise Transacional, durante o período da infância, desenvolvemos conceitos sobre o nosso próprio valor e sobre o valor dos outros. Dependendo do momento de vida em que isso é feito, estes conceitos poderão ser mais ou menos realistas. São quatro posições:

Sou OK e você é OK – tende a ser uma posição mais saudável porque leva a resolver nossos problemas de forma mais construtiva e porque aceitamos a importância das outras pessoas.

Sou OK e você não é OK – aqui existe a tendência à vitimização, a pessoa culpa os outros pelos seus males, podendo inclusive adotar comportamentos paranóicos por exemplo. 

Não sou OK e você é OK – aqui emerge o sentimento de impotência quando comparado aos outros. O que leva a comportamentos de fuga e depressão.

Não sou OK e você não é OK – perda do interesse pela vida, manifestação de comportamentos mais esquizofrênicos, o que caracteriza casos mais graves de conduta. 

Estas posições são importantes porque determinam a forma como interagimos com os demais e influenciam as nossas transações.

Roteiros ou Scripts de Vida

É um plano de vida formado por aspectos inconscientes gerados desde a infância e que determinam certos padrões de vida quando adulto. São padrões de comportamentos e sentimentos que repetimos por toda a vida, sem que a gente perceba, mas que podem ser mudados. Reconhecer a existência destes padrões, ajuda na mudança para comportamentos mais efetivos e assertivos, contribuindo assim para o nosso bem-estar e sentimento de realização pessoal, bem como profissional.

Uso da Análise Transacional: Aplicações e Contextos

A Análise Transacional, enquanto teoria, faz mais sentido quando as relações interpessoais são fundamentais ao contexto. Como estamos o tempo todo interagindo, ela se torna eficaz em uma série de situações. Não é à toa que começou na área clínica, de psicoterapia, e se expandiu para outras áreas. 

O ambiente organizacional, por exemplo, é um contexto muito rico em termos de interações interpessoais. A todo o momento as pessoas se relacionam entre si e as relações estabelecidas são diversas. A exemplo dos colegas que temos no trabalho, dos gestores, dos liderados, dos clientes e dos fornecedores. Sendo assim, quando utilizo em meu trabalho os conceitos da AT, contribuo para o desenvolvimento das empresas e das pessoas dentro destas organizações. 

Quanto mais soubermos sobre nós mesmos e sobre como nos relacionamos, melhor ficam as nossas interações e colhemos resultados mais satisfatórios. Tanto para o nosso benefício como para os outros. O relacionamento com as pessoas melhora, a satisfação no ambiente de trabalho cresce, a comunicação se torna mais eficaz e assertiva e existem menos conflitos ocupando nosso dia a dia. 

O profissional que utiliza fundamentos da Análise Transacional, contribui para o desenvolvimento de equipes, para o desenvolvimento de lideranças e gestores, ampliando o autoconhecimento, melhorando a comunicação entre as pessoas e estimulando a mudança de comportamento. O que leva a um melhor alcance de resultados e objetivos, sejam eles pessoais ou profissionais. Desta forma a AT é uma teoria valiosa e útil para profissionais que são pivôs do desenvolvimento de equipes, líderes e gestores. Ela apoia processos de Coaching, de desenvolvimento de mentores e de ações de treinamento & desenvolvimento.

→ O que é Coaching e como um psicólogo pode ajudar

Benefícios do uso da Análise Transacional em programas de T&D

De maneira geral podemos dizer que a Análise Transacional como modelo psicológico e de entendimento das interações humanas, contribui para:

Ampliação do Autoconhecimento

Como qualquer teoria de personalidade, conhecer como pensamos, sentimos e agimos contribui para o autoconhecimento. E como dissemos mais acima, ao nos conhecermos melhor, mais habilidade possuímos, pois nos tornamos mais conscientes de nossos recursos pessoais. E assim escolhemos mais sabiamente como utilizá-los.

Trocas mais positivas entre as pessoas

Por esta razão estabelecemos e construímos relações e trocas mais positivas e produtivas com as pessoas. Nosso potencial é aplicado com mais potência e com isso colhemos resultados melhores, maiores e mais satisfatórios, não apenas para nós mesmos, mas também para quem interage conosco.

Melhoria da assertividade

Através da Análise Transacional conseguimos colocar melhor nossas necessidades e pedidos. Nos comunicamos melhor, de maneira mais clara, mais objetiva e mais assertiva. Contribuindo assim para um entendimento maior entre aqueles com quem nos relacionamos.

Amplia a autonomia

Atingimos maiores graus de autonomia uma vez que passamos a ser mais conscientes de nós mesmos. Passamos a ter maior clareza da nossa contribuição na interação com os outros e, por isso mesmo, tomamos mais consciência do que precisamos mudar. Assim, passamos a agir com autenticidade e autonomia, responsáveis que somos pela forma como nos relacionamos.

Provoca mudança de comportamento

Uma vez mais conscientes e com autonomia para mudar, provocamos em nós mesmos a mudança, o redesenho de rota e a escolha de fazer diferente, para atingir melhores resultados. Para a AT o sujeito consegue rever suas decisões, tomando novas, mais poderosas e potentes, voltadas para o seu bem-estar e o do outro. 

Conclusão

Acredito muito na Análise Transacional como uma potente forma de trabalhar o desenvolvimento pessoal e profissional, tanto dos indivíduos, quanto de organizações. Por isso a utilizo como ferramenta no atendimento daqueles que buscam crescimento pessoal e profissional, maior qualidade em suas relações interpessoais, além daqueles que buscam atingir seus objetivos, colhendo assim resultados mais satisfatórios. Conheça os serviços que utilizam-se da AT: Coaching de Carreira, Coaching Empresarial, Programa de Mentores, Treinamento e Desenvolvimento.

De onde saíram essas idéias:

BERNE, E. Você está OK? Análise Transacional. Os jogos da vida. Artenova, 1974.

BERNE, E. O que você diz depois de dizer olá. São Paulo: Nobel, 1988.

JAMES, M. e JONGEWARD, D. Nascido para vencer: Análise Transacional com Experiências Gestalt. São Paulo: Editora Brasiliense, 1976.

×

Olá, Posso Ajudar?

Clique para iniciar uma conversa no WhatsApp

× Posso te ajudar?